quinta-feira, 20 de maio de 2010

O quarto


Ela entrou no quarto, trouxe suas coisas, mas esqueceu vestígios. Agora, ela tenta entrar e recuperá-los, porém deve tomar cuidado para que ele, o dono do quarto, não receba sua presença como uma volta permanente, e sim apenas uma visita com intenções opostas às dele. Mas ele não quer cede-las facilmente à ela. Não acha justo ter guardado suas coisas com tanto zelo, para que, no final, ter que dá-las assim facilmente, a hora em que ela quer.
Porém, ele percebe que não se deve guardar as coisas pertecentes às pessoas sem o consentimento das mesmas, e que essa atitude pode prejudicá-lo.
Então, a partir de hoje ele pretende não ligar para o que ela diz, e nada mais o encantará. Nem suas palavras confusas e contraditórias, nem seu pequeno gesto delicado, nem seu jeito bobo, e nem sua essência bondosa. Aliás, agora ele desconfia de tantas virtudes, ou prefere não acreditar.
Ele diz que esqueceram de avisar que a palavra razão não combina com ela, e que isso a torna cruel.
Na verdade, ele percebe que ela é como todas as outras que já passaram por sua rotina. Uma pessoa acomodada, que prefere tentar ser feliz com o que já tem a lutar mais por satisfação completa.
Mas aí vem o grande mistério: no fundo ela quer mesmo deixar suas coisas no quarto dele. Isso gera uma grande confusão na cabeça dele. Tenta justificar, arricando dizer que ela percebe que suas coisas foram bem cuidadas, com amor, durante a estadia.
Então ele está perdido, sem saber o que fazer. Muito perdido.

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