quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sobre nós.


"Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer para não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar de remar também. Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo: história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, e com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto, e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena, que você vale a pena, que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar."


Caio Fernando de Abreu.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O quarto


Ela entrou no quarto, trouxe suas coisas, mas esqueceu vestígios. Agora, ela tenta entrar e recuperá-los, porém deve tomar cuidado para que ele, o dono do quarto, não receba sua presença como uma volta permanente, e sim apenas uma visita com intenções opostas às dele. Mas ele não quer cede-las facilmente à ela. Não acha justo ter guardado suas coisas com tanto zelo, para que, no final, ter que dá-las assim facilmente, a hora em que ela quer.
Porém, ele percebe que não se deve guardar as coisas pertecentes às pessoas sem o consentimento das mesmas, e que essa atitude pode prejudicá-lo.
Então, a partir de hoje ele pretende não ligar para o que ela diz, e nada mais o encantará. Nem suas palavras confusas e contraditórias, nem seu pequeno gesto delicado, nem seu jeito bobo, e nem sua essência bondosa. Aliás, agora ele desconfia de tantas virtudes, ou prefere não acreditar.
Ele diz que esqueceram de avisar que a palavra razão não combina com ela, e que isso a torna cruel.
Na verdade, ele percebe que ela é como todas as outras que já passaram por sua rotina. Uma pessoa acomodada, que prefere tentar ser feliz com o que já tem a lutar mais por satisfação completa.
Mas aí vem o grande mistério: no fundo ela quer mesmo deixar suas coisas no quarto dele. Isso gera uma grande confusão na cabeça dele. Tenta justificar, arricando dizer que ela percebe que suas coisas foram bem cuidadas, com amor, durante a estadia.
Então ele está perdido, sem saber o que fazer. Muito perdido.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

...

Dessa vez não é mais a mesma sensação como nas outras situações iguais as que já vivi. Estou cheia de decepção, raiva, dor, angústia, confusão. Não tem espaço pra uma lágrima sequer, e isso é o que mais dói. Não consigo externizar o que sinto, nem gritando, nem chorando. Só consigo ficar triste, calada, com uma péssima expressão facial.
Busco rapidamente o amanhã, e ao mesmo tempo o temo. Então, penso: "Como isso pode ficar pior?!". E isso é o que me tranquiliza...
Decepção: errei em esperar demais de alguém, pude perceber que não conheço ninguém, não sei da capacidade de ninguém.
Raiva: é revoltante ter que passar por situações injustamente, em prol da fidelidade e lealdade que se promove à alguém, sem poder dizer nada.
Angústia: um sentimento que não estou sendo capaz de eliminar e nem substituir.
Dor: nem preciso dizer que sentir tudo isso dói demais dentro de mim.
Confusão: apesar de tudo, ainda sinto saudade...